E ali estava, sentado.
A cadeira era confortável, apesar de estar com as “perninhas à chinês”.
Chovia como nunca tinha visto antes em Lisboa, não que eu já tenha
visto chover em Lisboa, mas chovia bem.
Lá longe na minha terra chove muito e isso é sinónimo de frio, de
camisolas, camisolões, casacos quentinhos, lareira, torradas e histórias.
É diferente aqui na capital, a água que chegou ainda demorou um
tempito, se bem que as estradas agora estão bem melhores.
Recém chegada, caía por favor, com o cansaço acumulado dos lados da
minha terra. Tem muitos altos e baixos a minha terra.
Estava a olhar pela janela, que meio embaciada pela humidade, via-lhe
correr gotinhas, fazendo crescer aquele desejo infantil de desenhar o nosso
nome com o indicador mesmo sabendo que se vai apagar dali a uns segundos.
As ruas estavam a ser bombardeadas por água. Como resposta escorriam-na
pela avenida abaixo, tipo chuto, que ao fim de algumas horas deveria chegar à
Baixa, ao Tejo e depois ao Atlântico, misturando a terra, o suor, as marcas dos
sapatos com o sal.
Ria-me. Era engraçado ver aquela água toda a cair, com todos aqueles
carros a passar em azáfama, quiçá para ir buscar os filhos à escola, quiçá
porque há azáfama todos os dias.
As pessoas molhavam-se completamente: ninguém esperava e portanto julgo
que a chuva se risse também, isto antes de se esmorrar contra a calçada ou
contra o alcatrão.
Fitei aquele espetáculo onde a ação recaía ou nos relâmpagos, que de
vez em quando apareciam tipo bobo da corte a dar a moral da história, ou na
chuva, que não se cansava de cair.
Quinze minutos ali estive.
Começava a ter formigueiro na perna direita e sentei-me direito.
Fiquei com a sensação de que este mundo é imprevisível, bem frio quando
é Inverno e que o formigueiro incomoda. Prefiro o Verão.
Não gosto lá muito de chuva, acho-a aborrecida, faz-me lembrar os “mais
velhos” sempre a dizer a mesma coisa,...
No entanto, faz crescer milhões de plantinhas, plantas maiores, arvoredos, árvores,
florestas, que por sua vez sustentam e ostentam milhões de seres vivos,
conseguindo manter a estabilidade de oxigénio nesta Terra em que são cada vez
mais a respirá-lo e menos a respeitá-lo.
Aparece quando é necessário, se bem que ultimamente tem demorado mais
que o previsto, mas aí, sabemos de quem é a culpa, porque Deus tem sido bondoso
e tem mandado as gotinhas sempre que pode.
Tudo a água nos pode dizer. Tudo a água nos pode mostrar.
Deixem-na vir, ainda que seja chatinha, assim sempre crescem as batatas
e os feijões e montes de outras coisas mais. Ainda que por muito egoístas,
arrogantes, simpáticos, pessimistas, humildes ou racistas que sejamos, a chuva
vai continuar a cair e se não tomarmos as devidas precauções, molhamo-nos, o que
é desagradável, ou pelo menos molha.
O melhor é serem simpáticos e otimistas porque quando a chuva vos cair
em cima, vocês irão rir-se e rir faz bem à saúde.
Thibaut Ferreira,
Lisboa, 25/09/2012
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