domingo, 6 de outubro de 2013

Um dolitá, nada de números desta vez


Comecei a escrever este pseudo-diário com base em alguns desabafos que me iam passando pela cabeça numa tentativa algo estranha de desanuviar.
Em todos os textos que fui escrevendo nesse registo, fui apenas desbravando caminhos turvos, caminhos tristes, confusos, que tentei de alguma forma remediar ou alterar: para ser sincero nunca tive um rasgo de felicidade, “escritamente” falando.
Há dias para tudo, reajustando a expressão.
Hoje é um dia para desabar a felicidade que tenho.
Sou um rapaz feliz, grosso modo. Tenho grandes amigos, uma grande família e um país com um clima bastante agradável, diga-se.
Adoro rir. Mas assim a sério. Gosto também de fazer rir os outros, dar um bocadinho não da minha felicidade que não vendo dessas coisas, mas da minha simpatia, do meu bem-estar, porque coisas como felicidade não se dão nem se emprestam e também não se compram.
O sorriso das pessoas, a correspondência da minha ingenuidade é, foi e será sempre algo que me manterá “vivo”, porque quer queiramos quer não, a felicidade dos outros faz parte da nossa felicidade.
Estou realmente feliz. Sorrio a escrever. Está uma bela noite.
Adoro música, tanto como as tartes da minha mãe. Tenho saudades dos meus pais, mas sinto-os perto a cada telefonema, a cada piada seca, molhada, morna, nem interessa. Sinto que as saudades se desfazem em palavras e no arroz que me mandam de vez em quando. A distância, a saudade, o amor serão sempre duros de roer, mas creio que a nossa dentadura é rija o suficiente para aguentar.
Estou na rua, a saborear a brisa quase de verão a cada pedaço de vento que me passa nas narinas. Adoro o verão.
Este ano foi, até agora, o mais incrível que já tive. Já sou homem e a barba cresce cada vez mais rápido. A minha memória de nomes, caras, fórmulas, números, letras, sons vai dilatando e começo a entender umas coisas de Economia.
Não é por nada, mas estou mesmo bem cá fora, faz-me lembrar Sendim, o meu jardim e os odores das plantas crescidas com montes de cores das quais só metade sei o nome. Metade? Qual metade? Nem um quinto. De vez em quando ajudo a minha mãe a regá-las. São bonitas mas a beleza dá trabalho, como ela costuma dizer. De calções, chinelas e um mini escaldão no pescoço vou alimentando aquelas cores e fico feliz por contribuir para a magia daquele local.
As estrelas estão bastante visíveis, sim, vê-se a Ursa Maior, aquela sertã mal desenhada, mas tão brilhante que nos esquecemos que reluzem a muito longe, tão longe que nem dá para entender muito bem.
 Desde que estou em Lisboa, olhar as estrelas lembra-me o Douro. O dourado que é refletido por aquela imensidão de água é quase tão bonito como o loiro cabelo da minha irmã. Está uma mulher.
A quietude da Natureza, visível do meu quarto lá longe também me faz falta. Mas saborear esses prazeres esporadicamente, torna-os mais incríveis, mais apetecíveis.
Fazer desporto também me faz feliz. Perder uns quilitos, suar um bocado e treinar o espírito de equipa: remédio santo para dormir bem. Com os exames à porta, tenho tentado manter o ritmo para ver se durmo alguma coisa, mais que não seja com as dores de pernas.
Tenho pena de não conseguir passar das duas páginas, preciso de mais treino.
Para acabar, vou só dizer mais uma coisinha: riam-se e façam rir a vossa família. Quanto a vocês não sei, mas a minha família é mais do que aquilo que me está no sangue.

Thibaut Bandarra
Lisboa,
Algures em Junho