Há momentos da nossa vida em que ficamos suspensos. Teletransportados
para outro mundo, outra dimensão, quiçá outro universo, flutuamos nas ondas do
vácuo, ao som de uma música que vem de todo o lado e não nos questionamos o que
é, porque na verdade não sabemos o que somos e muito menos onde estamos.
Feitos
de matéria cósmica, nascidos de areia de galáxias com milhões, triliões de
átomos, coisas realmente pequenas que agora são pontinhos acesos que brilham à
nossa frente e que não lhes conseguimos tocar, viajamos. A nossa alma responde
ao ondular do vazio e torna-se ela própria o ser, a areia e a matéria, fundindo
aquilo que somos e vivemos com nada e assim ficamos neste estado de
inconsciência. Pairamos no desconhecido, deslizamos, nus de carne, nus de osso,
lentamente, num calmo passeio ao paraíso momentâneo, pai
de tudo e filho de nada, que se nos aparece azul, violeta, vermelho, nem sei
bem, mas é tão belo que a sua cor se desdobra em bondade e a bondade em
felicidade. Ali vivemos eternamente, longe do nosso casaco de pele, de veias e
artérias para sentir o que não se sente com olhos que não vêm. Não temos membros,
somos pó! Somos a nossa alma e só dela sabemos quem somos porque dela saímos.
O mundo, a terra, as pessoas? Saberão eles onde estamos? Saberão eles
que isto é o paraíso e somos pó e areia e alma despida de sofrimento e dor?
Deus, se tal coisa realmente existe, será isto. Será também nós, unidos
dentro deste vazio cósmico.
Começa a aparecer uma certa luz, mostrando o seu tom alvo, reluzente,
limpo. Como que se nos sugasse, viajamos à velocidade da luz e a Terra vai-se-nos
aparecendo à frente, em forma de berlinde, azul, tornando-se cada vez maior, cada
vez mais familiar e o vácuo começa a desvanecer-se e vamos sentindo agora os
dedos, os braços, as pernas, os olhos, o nariz e a boca. O sabor, a água, o
vento, o frio e calor são agora coisas e nós sentimo-las. Agora pensamos. Agora
sabemos realmente quem somos e de onde viemos. Estamos presos noutro mundo, num
mundo com infinitos acontecimentos e seres. A areia, o pó e a alma
materializam-se e os nossos olhos ficam abertos, quietos, atentos ao que se
passa.
Conseguimos regressar. Será que lá voltaremos?
Começa agora a debandada amnésica em busca do desconhecimento e vamos,
à medida que o mundo surge ao nosso olhar, esquecendo.
Deixamos de
acreditar em tais mundos pois agora tais mundos não existem.
Há mais coisas no mundo do que aquelas que nos saltam à vista.
Thibaut Ferreira
Lisboa, 16 de Dezembro de 2012
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